A fragilidade que há por traz da raiva
Caros leitores, A raiva é uma emoção que provoca efeitos bastante perceptíveis física e mentalmente.
. O corpo
produz uma química que imediatamente inunda a corrente sanguínea e produz
diversas reações: aumento do batimento cardíaco, alteração da respiração,
sensações desagradáveis no estômago, contração ou tensão nos músculos, entre
outras... Além dos efeitos físicos, a energia dessa emoção gera vários tipos de
pensamentos que acabam alimentando ainda mais a raiva. Mas o que
verdadeiramente está por trás desse sentimento? A princípio parecemos mais
fortes e intimidadores quando estamos com raiva. Só que, na verdade, esse
sentimento pode estar escondendo várias de nossas inseguranças.
A raiva pode
esconder o medo. Imagine uma criança que inocentemente faz algo muito perigoso,
como por exemplo, soltar a mão do adulto e atravessar a rua correndo. O pai ou
a mãe podem ficar loucos da vida e brigar ou mesmo bater no filho. O que na
verdade a raiva está escondendo é o medo que aconteça alguma coisa de mal com
filho, medo da tristeza ou culpa que isso pode causar.
A raiva de
alguém pode esconder uma culpa. Imagine que tem algo que você tenha feito que o
faz sentir culpado. Pode ser o abandono de um filho, ou uma injustiça contra
algum amigo, algum ato desonesto, ou qualquer outra coisa. Se alguém tocar no
assunto, é possível que você se defenda com raiva e agressividade ao invés de
admitir seus erro e reais sentimentos. É como se você dissesse: Não toque neste
assunto, pois isso me faz sentir culpado, e eu não quero sentir essa culpa!
A raiva pode
esconder uma dificuldade em dizer não e impor limites. Tem pessoas que lidam
bem com a questão de impor os limites e se fazer respeitar. Conseguem
perfeitamente dizer aos outros quando estão cansadas e precisam ir embora, que
não é permitido que se faça tal coisa em suas casas, ou ainda que não podem dar
aquela carona solicitada pelo amigo.
Já outras
pessoas tem grande dificuldade. E a cada limite que não é dado, acumulam um
ressentimento. Podem até parecer exteriormente tranquilas, mas por dentro a
raiva e mágoa estão se acumulando. Até que chega num determinado momento que é
a gota dágua. A raiva se torna tão grande que supera o medo de colocar limites.
Aí sua reação é intensa, agressiva, e é possível que venha a falar tudo que não
falou até aquele momento.
A raiva pode
esconder uma necessidade de manipular o outro. Uma filha que se sente culpada
quando sua mãe fica com raiva estará bastante suscetível a fazer o que esta mãe
quer, e não a sua própria vontade. Pode se estabelecer um grande jogo de culpa
e manipulação recheado de ressentimentos que às vezes perdura a vida inteira.
Raiva de
alguém, que não nos perdoou, esconde que ainda não nos perdoamos. Às vezes,
estamos com raiva de alguém por que essa pessoa não nos perdoou por algo que
fizemos e já assumimos o erro e nos desculpamos.
Na verdade, nós
é que ainda não nos perdoamos. Estamos contando que o outro nos perdoe para que
possamos finalmente nos perdoar. É como se o outro fosse o detentor do poder de
nos devolver a paz interior. Ficamos, então, com raiva da pessoa por que ela
não nos libera. Mas é claro que podemos nos liberar, mesmo que o outro ainda
tenha mágoa. Como não conseguimos ver dessa maneira, sofremos.
A raiva pode
esconder a necessidade de reconhecimento. Fazemos muitas coisas esperando algum
tipo de reconhecimento. A princípio dizemos que não necessitamos de nada disso.
Mas quando o reconhecimento não vem, sentimos raiva das pessoas.
Outras vezes,
alguém fez algo que não gostamos. A raiva surge como uma forma de tentar fazer
com o outro se sinta culpado, reconheça o que nos fez, nos peça desculpas e
diga o quanto foi injusto.
A raiva pode
esconder um sentimento de rejeição. Pessoas que foram abandonadas, seja pelo
pais, parceiros ou outras figuras importantes, sentem-se rejeitadas. A rejeição
é muito incômoda por que normalmente achamos, consciente ou inconscientemente,
que temos algo de muito errado, que não somos dignos de receber amor. Essa dor
pode ser mascarada e tudo que demonstramos é a nossa mágoa, raiva e desprezo
por aquele que nos abandonou. É como se disséssemos: "Você me rejeitou e
me fez sentir que não tenho valor algum, eu não quero entrar em contato com
esse sentimento, não sei lidar com ele. Prefiro demonstrar que tenho raiva de
você, provar que você é injusto, ingrato; que é uma má pessoa!"
A raiva pode
esconder o sentimento de impotência ou uma não aceitação. Aconteceu algo e não
há absolutamente o que fazer naquele momento. O carro quebrou e você está com
muita pressa. O funcionário perdeu um documento muito importante. A empresa
aérea lhe vendeu um bilhete mas não tinha vaga no avião. Está chovendo muito no
feriado e você havia planejado ir a praia.
A raiva dos
outros pode esconder a raiva que você sente de você mesmo. Fizemos algo
teoricamente contra a nossa vontade por que alguém pediu. Na realidade, fizemos
porque queremos ser aceitos e temos medo da rejeição. Aí ficamos com raiva da
pessoa, talvez achando que ela é uma exploradora e que somos sua vítima.
Analisando mais profundamente, na verdade, estamos com raiva de nós mesmos por
termos feito algo que não queríamos; raiva por não termos sido capaz de dizer
um simples não, raiva de sermos tão dependentes.
Mascaramos
nossas fragilidades. Sentido-se fraco, o ego se esconde atrás de uma aparente
capa de força e agressividade, para assustar, defender-se. É como alguns
animais pequenos e inofensivos fazem na natureza. Quando estão acuados, tem uns
que inflam o papo, se arrepiam, abrem as asas ou um leque de penas. Tudo para
parecer maior e mais forte.
"Quanto
maior a armadura, mais frágil é o ser que a habita"
Namaste.
MARIO EUGENIO SATURNO - Quociente de Inteligência Política