Jeremias de Qumran e da Septuaginta
Ecrevi diversos artigos apresentando livros que tratam da proximidade entre a Septuaginta (LXX) dos originais hebraicos, enquanto que o Antigo Testamento dos católicos, judeus e protestantes sofreram alterações significativas.
Não custa lembrar que osprimeiros cristãos utilizavam a LXX.
Outro livro importante e queagrega diversos autores é o "The Oxford Handbook of the Septuagint"que tem o capítulo 18, "Jeremiah, Baruch", de Matthieu Richelle. Comojá expliquei em outros artigos, Jeremias é o livro mais alterado da Bíblia.
Orígenes e Jerônimo haviamnotado grandes diferenças entre o texto hebraico que conheciam e a versão daSeptuaginta. O texto hebraico era bem mais longo e várias passagens estavamordenadas de forma diferente. Jerônimo confiou na "hebraica veritas"e ignorou a versão grega ao escrever sua própria versão em latim, a versão"iuxta Hebraeos", posteriormente conhecida como Vulgata, quesubstituiu a Antiga Latina (Vetus Latina). Como consequência, Jerônimo nãotraduziu o livro de Baruque, ao contrário dos manuscritos da Vetus Latina, nosquais ele é parte integrante do livro de Jeremias. Consequentemente, o estudoacadêmico do Jeremias grego e de Baruque foi negligenciado a partir daAntiguidade Tardia.
A descoberta de fragmentoshebraicos do livro de Jeremias entre os Manuscritos do Mar Morto, alguns dosquais exibindo um texto bastante próximo do que seria o modelo hebraico da LXX,deu um novo impulso a esse tipo de estudo. Embora isso tenha sido anunciado nadécada de 1950, foi somente em 1973 que uma edição preliminar dos fragmentosrelevantes de Qumran da Caverna 4 foi publicada.
A diferença quantitativaentre o Texto Massorético (MT) e a LXX é impressionante, mais de 3.000 palavrasdo MT, cerca de um sétimo de seu conteúdo, não têm contraparte na LXX. Emmuitos casos, trata-se apenas de uma sequência de algumas palavras que nãoparecem ser de importância crucial (cerca de cinquenta ocorrências da fórmula“assim diz o SENHOR”, além de nomes, títulos, etc.), e muitas vezes criam merasrepetições no texto.
No entanto, mesmo algumasdessas pequenas adições alteram significativamente o conteúdo do texto aofornecer informações únicas, por exemplo, a identidade do "rei vindo donorte" que subjugará todas as nações no capítulo 25. Mais importante, adiçõeslongas não são raras, e a mais longa (33,14-26 MT) contém 185 palavras. Essematerial inevitavelmente tem um impacto qualitativo, na medida em que contémideias teológicas ou ideológicas e altera a organização literária de seçõesinteiras.
Porém, algumas partes dolivro são quase idênticas em ambas as tradições textuais como as “confissões deJeremias” (Jr 11,18-12,6). As referências a Jeremias em Siracida (Eclesiástico)mostram que o Jeremias da LXX já existia por volta de 130 a.C. A tradução podeter sido feita na primeira metade do segundo século a.C. em Alexandria.Provavelmente, influenciou o tradutor das Lamentações (primeiro século d.C.),pois muitas traduções significativas de palavras e expressões hebraicas para ogrego são as mesmas nesse livro e em Jeremias 1-28.
Mario Eugenio Saturno(fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Professor Assistente da Escola de Teologiapara Leigos São José de Anchieta da Diocese de Caraguatatuba, TecnologistaSênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano
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